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 21 de Outubro de 2025

Reencenar Vale Tudo em 2025 é mais do que revisitar um clássico: é confrontar um país que continua atolado nos mesmos impasses éticos que a novela denunciou em 1988. O Brasil vive um momento de ebulição política, em que a palavra “ética” deixou de ser um conceito abstrato para se tornar um grito popular, disputado em praças, redes e instituições. O problema é que, ao invés de aprofundar a reflexão sobre os dilemas morais do país, que por sinal está pegando fogo, a autora opta por um último atalho melodramático: ressuscitar a imagem icônica de Carolina Dieckmann raspando a cabeça em Laços de Família e deslocar a trama para um núcleo de doença.
 
A decisão não é apenas equivocada: é sintomática de uma dramaturgia que tem se mostrado mais preocupada em provocar lágrimas fáceis do que em estimular debates necessários. Ao trazer para Vale Tudo um câncer como enredo paralelo, a novela não apenas se distancia do seu eixo original, mas impõe à plateia um peso que não dialoga com a urgência da narrativa. Afinal, Vale Tudo não é um tratado sobre fragilidades biológicas, mas sobre escolhas morais, corrupção e sobrevivência em um país que, desde sempre, confunde esperteza com vitória.
 
Essa novela deveria nos fazer refletir melhor, todos nós, sobre momentos de crise que podem gerar reflexão coletiva. E a história da televisão brasileira demonstra que a telenovela sempre foi capaz de tensionar a realidade nacional, seja pela crítica social de Janete Clair, seja pela ironia cortante de Dias Gomes. A ausência desse senso em Manuela Dias é mais do que um desperdício estético: é um gesto de desrespeito com o público que reconhece em Vale Tudo uma obra que nasceu para discutir o Brasil. Não se trata de exigir fidelidade absoluta ao texto original, mas de perceber que a relevância da trama está justamente em sua capacidade de espelhar a sociedade em seus vícios mais persistentes, principalmente atuais.
 
Modificar, portanto, não é o problema. O problema é modificar para pior, reduzindo uma discussão ampla sobre moralidade nacional a um melodrama hospitalar. Quando a cena da raspagem de cabelo substitui a cena do dilema ético, que era o pilar de Vale Tudo, o que se perde não é apenas o fio da narrativa, mas a força de uma metáfora. A novela deixa de ser um espelho político e passa a ser um palco de choros previsíveis, alinhando-se ao que há de mais simplório no folhetim, quando poderia, justamente agora, ser instrumento de reflexão nacional.
 
Não é a primeira vez que Manuela falha nesse quesito, nem será a última até o final da trama. A insistência em trocar densidade por espetáculo sentimental revela uma escolha estética que desrespeita a inteligência do público e diminui a grandeza de um clássico. Vale Tudo não precisava de mais lágrimas: precisava de coragem. E coragem, neste momento da história brasileira, é usar a ficção para falar de ética sem desviar o olhar. É uma pena.

 

Foto/Reprodução/TV Globo

 
 

 

 

 

 

Fonte: https://lobianco.ig.com.br/

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal DN

 

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